Desde a queda do Airbus da Air France vivo uma muda expiação. Reler a última postagem foi uma tortura. Não pude achar nenhuma graça em minha tentativa imbecil de transformar medo em anedota.
A tragédia me remeteu imediatamente à minha experiência primaz com a dor da perda – Wagner, sempre Wagner... Lembro-me como se fosse ontem que nada me acalmava. Tudo em mim era uma culpa imensa por ter permanecido.
A maior parte das pessoas pensa que, na morte, a dor da perda é a experiência fundamental. Deve ser mesmo. Mas eu pensei, naqueles dias como agora, na experiência de se extinguir e na consciência gerada no momento da extinção.
Penso nos quatro minutos que dividem o primeiro incidente dentro da aeronave do momento em que chega a certeza de que se está morrendo. É isso que me apavora nos aviões. Do silêncio de minha dor espero que aquelas pessoas tenham perdido a consciência imediatamente.
Quando voltava do Rio na semana passada o aeroporto de Congonhas foi fechado para pousos e decolagens às 14h30min graças a uma forte chuva. Permanecemos no ar sobre a cidade de Ubatuba – segundo informou o comandante – até que a situação melhorasse. Durante esse tempo, ainda que estivesse absolutamente controlado, me era impossível não pensar no jato da Gol nos minutos que se seguiram à colisão com o Legacy. Voltei a pensar nisso no dia 31 de maio, dia do meu aniversário.
Estranhamente, quando a atendente da TAM me perguntou se eu queria janela ou corredor eu respondi a primeira opção. Não havia nenhum passageiro na fileira na qual viajei. O dia estava lindamente aberto. Pela primeira vez eu prestei atenção na costa do Rio de Janeiro. O mar imenso. Uma estreita e longa faixa de terra e o mar imenso. O sol quase me queimava. Como pode ser doce o medo.
Do outro lado do corredor uma dupla de comandantes, impávidos mesmo quando foi anunciado que estaríamos presos sobre todas as coisas, lanchava e conversava alegremente. Suas esposas seriam mulheres muito bem informadas sobre as estatísticas acerca da possibilidade de se morrer em vôos ou apenas mulheres resignadas com o fato incontestável de que todos nos perderemos uns dos outros uma hora destas?
Sim, perder alguém é uma terrível experiência. Todas as vezes em que penso na palavra “terrível” é disso que me lembro. Foi esta palavra que repeti para mim mesmo, como para me descrever o que estava sentindo há quase 25 anos.
No entanto, tanto mais terrível era compreender o corte seco, a ruptura, a violência da interrupção aguda e repentina que acontecera com o outro, com o que se fora. Desde então o lugar comum que atribui o sofrimento a quem fica não me acalma.
Minha culpa, minha máxima culpa por permanecer. É como me senti na primeira vez e é como me sinto agora diante da última tragédia.
A tragédia me remeteu imediatamente à minha experiência primaz com a dor da perda – Wagner, sempre Wagner... Lembro-me como se fosse ontem que nada me acalmava. Tudo em mim era uma culpa imensa por ter permanecido.
A maior parte das pessoas pensa que, na morte, a dor da perda é a experiência fundamental. Deve ser mesmo. Mas eu pensei, naqueles dias como agora, na experiência de se extinguir e na consciência gerada no momento da extinção.
Penso nos quatro minutos que dividem o primeiro incidente dentro da aeronave do momento em que chega a certeza de que se está morrendo. É isso que me apavora nos aviões. Do silêncio de minha dor espero que aquelas pessoas tenham perdido a consciência imediatamente.
Quando voltava do Rio na semana passada o aeroporto de Congonhas foi fechado para pousos e decolagens às 14h30min graças a uma forte chuva. Permanecemos no ar sobre a cidade de Ubatuba – segundo informou o comandante – até que a situação melhorasse. Durante esse tempo, ainda que estivesse absolutamente controlado, me era impossível não pensar no jato da Gol nos minutos que se seguiram à colisão com o Legacy. Voltei a pensar nisso no dia 31 de maio, dia do meu aniversário.
Estranhamente, quando a atendente da TAM me perguntou se eu queria janela ou corredor eu respondi a primeira opção. Não havia nenhum passageiro na fileira na qual viajei. O dia estava lindamente aberto. Pela primeira vez eu prestei atenção na costa do Rio de Janeiro. O mar imenso. Uma estreita e longa faixa de terra e o mar imenso. O sol quase me queimava. Como pode ser doce o medo.
Do outro lado do corredor uma dupla de comandantes, impávidos mesmo quando foi anunciado que estaríamos presos sobre todas as coisas, lanchava e conversava alegremente. Suas esposas seriam mulheres muito bem informadas sobre as estatísticas acerca da possibilidade de se morrer em vôos ou apenas mulheres resignadas com o fato incontestável de que todos nos perderemos uns dos outros uma hora destas?
Sim, perder alguém é uma terrível experiência. Todas as vezes em que penso na palavra “terrível” é disso que me lembro. Foi esta palavra que repeti para mim mesmo, como para me descrever o que estava sentindo há quase 25 anos.
No entanto, tanto mais terrível era compreender o corte seco, a ruptura, a violência da interrupção aguda e repentina que acontecera com o outro, com o que se fora. Desde então o lugar comum que atribui o sofrimento a quem fica não me acalma.
Minha culpa, minha máxima culpa por permanecer. É como me senti na primeira vez e é como me sinto agora diante da última tragédia.
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