quarta-feira, 7 de julho de 2010

FUTEBOL E O CASO BRUNO

Muita gente acha estranha minha paixão por esportes, futebol em primeiro lugar. Talvez eu nunca tenha tentado esclarecer isso.

Futebol, além de metáfora da vida, reflete muito bem a alma de um povo. É um esporte democrático, na medida em que ricos e pobres têm acesso a ele, sem discriminação.

Como não é tênis, esporte que EXIGE determinadas condutas, EXIGE cavalheirismo, EXIGE boa educação, foram incorporadas ao jogo certa dose de malandragem, violência, machismo, cafajestagem, que muitos de nós acabam achando normal.

Não. Não é normal. Futebol DEVERIA ser como o tênis. Faltas deveriam ser coibidas, senão PROIBIDAS. Malandragem não deveria fazer parte do jogo.

Acontece que a maioria de nós tem vergonha da educação, da boa índole, do cavalheirismo. E futebol é coisa de pobre mesmo, então tudo bem ser grosseiro.

Não. NÃO É BOM SER GROSSEIRO. Deveríamos ter um código de conduta rígido. Estamos nos acostumando com FALTAS NECESSÁRIAS. O que é isso? Desde quando temos de concordar com isso?

No jogo e na vida FALTAS SÃO FALTAS. Não podemos abrir exceção, é um perigo terrível! Primeiro concordamos que determinadas faltas são necessárias e depois acabaremos por achar que determinados assassinatos também são. Não. O que é bom é bom e o que é ruim é ruim.

Como pobres podem praticar futebol - para jogar tênis em São Paulo é preciso pagar uma FORTUNA, três bolas de tênis aqui perto de casa custam 15 REAIS - nos acostumamos a tolerar truculência, violência, malandragem, picaretagem...

Estou farto. Eu AMO futebol. Mas estou farto. Ouvir o goleiro do mais popular clube do Brasil dizer aqueles absurdos, imaginar que talvez ele tenha feito o que fez...

Precisamos de futebol, precisamos de arte, precisamos de cultura, MAS PRECISAMOS, ACIMA DE TUDO, DE EDUCAÇÃO!

Vou continuar a gostar de futebol. Agora, no entanto, estou envergonhado. Precisamos repensar o país, precisamos repensar o futebol, precisamos repensar nossas pequenas atitudes que colaboram para que pessoas despreparadas, semi-analfabetas, sem nenhuma perspectiva exceto virar celebridade ou jogador de futebol, façam o que espero que esse rapaz, goleiro do Flamengo, não tenha feito.

E que se faça valer, de verdade, a Lei Maria da Penha.

P.s.: Estou tão indignado com esta história que não consigo falar sobre a morte de Ezequiel Neves exatamente 20 anos após a morte de Cazuza. Falo disso depois.