segunda-feira, 14 de setembro de 2009

VIDA DE ARTISTA

O chato de se ter muitas profissões é que, vira e mexe, a gente tem de parar uma para que outra aconteça. Na verdade a única que não para nunca é a de professor - não se pode abandonar seus alunos a qualquer momento...
De resto, ao sabor dos ventos, vai-se alçando os voos que os tempos mandam. Por estes dias tem sido assim. Primeiro eu parei tudo para escrever uma nova peça (Histórias de Gente e de Bichos) que Juliana - minha mulher - já começou a produzir.
Depois foram duas semanas de testes voltados para o trabalho de ator - será que as produtoras combinam entre elas de fazer os filmes todos ao mesmo tempo?
Aí hoje eu já sei que os próximos dois meses vão ser assim, tudo ao mesmo tempo agora, porque vou começar a ensaiar o infantil, filmar dois longas (Bruna Surfistinha e Dois Coelhos), continuar a dar aulas e ainda tem o plano de gravar um CD com meu amigo Fred.

Acho que tô um pouco cansado...

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

MINHA COPA DE 86



Quando se é adolescente as coisas passam realmente muito rápido. Pensando em retrospectiva, chego à conclusão de que em nenhuma fase posterior de minha vida tantas coisas aconteceram, em tão pouco tempo, de maneira tão intensa. Ora, mas estou dizendo obviedades. Talvez para compreender os motivos que me levaram a não ter mais o Júnior como meu melhor amigo, que me fizeram perder o meu novo melhor amigo dois anos antes e que me levaram a precisar de novos melhores amigos, isso tudo no intervalo entre duas copas...

Eu já conhecera a dor nos anos anteriores. E não falo exatamente da dor de perder uma copa do mundo. Falo de coisas bem mais sérias. Primeiro foi a morte de Wagner, personagem já apresentado aqui, a perda que re-significou todas as outras vindouras e que me fez entrar na idade adulta bem antes do previsto. Isso foi em 84. No ano da copa houve a consolidação do divórcio dos meus pais que se iniciara, de fato, no final de 85.

Assim, quando a copa de 86 começou, eu já não tinha casa. O processo de separação fez com que meu pai vendesse a casa em que morávamos e houve uma verdadeira diáspora em nossa família. Minha irmã mais velha foi morar em lugar no centro. Meu irmão foi morar com uma tia. Minha mãe e eu fomos morar com minha outra irmã, e com o marido dela numa casinha minúscula.

(Quando conseguimos comprar uma nova casa, foi num casebre horrendo que passamos a viver. Isso não é figura de linguagem, a casa tinha três cômodos e um banheiro, tudo caindo aos pedaços. Até hoje não sei como minha mãe conseguiu transformá-la na casa decente que eu visito às vezes).

Voltando à casa de minha irmã: foi ali, com minha mãe, minha irmã e seu marido que assisti àquela partida truncada na qual ganhamos de 1 a 0 da Espanha, gol de Sócrates de cabeça. Talvez pelo momento tumultuado que vivíamos não me lembro de ter assistido às outras partidas da seleção. Minha mãe estava bem alterada emocionalmente e, ao que parecia, eu era o único homem da família... Agora, revendo as datas e os dias da semana nos quais os jogos caíram, percebo que os outros jogos foram em dias úteis. Logo eu estava trabalhando – meu segundo emprego, no Bradesco. Sintomático que eu não me lembre já que é comum que todos parem seus expedientes em dias de jogos de copa do mundo. Freud explica...

Voltando ao gol contra a Espanha. Eu comprara um rojão – acho que o primeiro e único de minha vida – e fui até a varanda para soltá-lo após o gol. Acontece que eu o acendi e o virei em minha direção, na altura da cabeça. Percebi a bobagem segundos antes que ele explodisse. Só houve tempo de virá-lo e “buum”. Quase perdi a cabeça. De resto todos as tínhamos perdido naqueles tempos.

Só volto a me lembrar da copa no jogo contra a França de Platini, já nas quartas de final. Era sábado e eu saí da casa de minha irmã no começo da tarde paramentado com uma camiseta que deveria ser especial da copa. Eu a comprara nos dias anteriores e me lembro que não tinha mangas. Deveria estar bem ridículo...

O encontro fora marcado na casa de um amigo do colégio. Éramos quatro amigos inseparáveis, havíamos cursado o primeiro ano do colégio na mesma sala, mas fôramos alçados à turma B no segundo ano por razões que desconheço. Como não conhecíamos ninguém nesta turma passamos a andar juntos todo o tempo. Infelizmente não tenho mais contato com nenhum deles.

A casa era do Chacon e, além dele, estávamos eu, Hélder e Nilson. Não havia bebidas, éramos caretas ao extremo. Festa no gol do Brasil. Tensão no empate da França. Euforia no pênalti ao nosso favor. Decepção quando o Zico perdeu. Apreensão quando o Sócrates perdeu o dele na disputa de pênaltis. Depressão quando o Júlio César acertou a trave e nós fomos derrotados pela França. Acabava ali a chance de uma das mais talentosas gerações do futebol brasileiro e mundial vencer o mundial. E nossa chance de ver o Brasil campeão pela primeira vez já nascêramos todos em 70, quando o Brasil havia sido campeão pela última vez.

Lembro-me que nós quatro, uns mais outros menos, choramos durante algum tempo. Depois tiramos nossos paramentos e nos despedimos. Nos dias seguintes voltamos ao nosso cotidiano e à nossa amizade que só seria seriamente abalada quando um de nós foi expulso do colégio – um dia conto esta história.

Nos anos que se seguiram meu universo de interesses iria sofrer uma grande revolução. Eu abandonaria o futebol e o vôlei e descobriria o teatro. Depois estrearia como profissional aos 17 anos e entraria na UNICAMP com a mesma idade.

E ainda teriam os namoros, as paixões não correspondidas, o reencontro com a morte, tantas coisas antes da copa de 90... Será que as coisas são realmente assim? Uma sucessão de fatos extasiantes que separam uma copa de outra? Talvez não para a maioria das pessoas, mas para mim, nesta época, ainda era. Felizmente, entre uma e outra copa, gastei meu tempo vivendo de intensidades. Ainda que isso, por vezes, tivesse a cor do céu de outono.

Até a próxima...