Prezada Letícia:
Eliseu Paranhos
Não nos conhecemos, apesar de trabalharmos na mesma empresa. Para começar, você tem meu respeito. E não quero falar sobre seu talento. Muito menos sobre sua beleza. Num momento como este, isso me pareceria machista e sexista e não creio que você mereça isso. Quero falar sobre solidariedade.
Espero que você e sua família estejam bem e que possam se recuperar o mais brevemente possível. Sei que o que viveram foi terrível e cruel.
Na verdade, sei apenas em termos. Nos lugares em que vivi, uma parte das pessoas que conheci tornaram-se criminosos pelos mais diversos motivos. O principal deles foi a pobreza. Eu e alguns outros escapamos, sabe-se lá como. Talvez graças a pessoas que, como você, lutaram e lutam para que a desigualdade social diminua no país – seja através de políticas de inclusão, seja através de engajamento, seja através da arte.
Eu poderia ser uma das pessoas que invadiu a casa de sua família e só de pensar nisso me arrepio inteiro. Por outro lado, mesmo tendo ascendido socialmente, garanto que não posso ser confundido com nenhuma “esquerda caviar” (sic).
Ainda assim, espero que, após o tempo de luto por ter tido sua família violentada tão cruelmente, você não deixe de acreditar nas pessoas e na capacidade que elas possuem de se modificar quando damos oportunidades a elas. Eu sou prova disso.
Se isso não acontecer e você desistir de seu discurso de inclusão, ainda assim eu entenderei. Foi você quem viveu a violência, só você sabe o tamanho de sua dor, só você sabe o que pode e não pode fazer e sentir!
Quanto à outra crueldade à que você foi submetida – não a dos marginais, falo da outra, a do rapaz que prefere tripudiar para tentar fazer vencedoras sua teses – espero que a solidariedade de todos nós (artistas ou não, intelectuais ou não, isso pouco importa numa hora como estas!) possa confortá-la ao menos em parte.
Com carinho.
Eliseu Paranhos
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