Londrinos são muito polidos, muito educados, irônicos, eventualmente podem ser rudes sem alterar o volume de voz. Parecem suportar melhor os turistas, que não são tantos quanto os que há em Paris. Tudo bem que estávamos em época de Paralimpíadas, então não é possível saber se não havia um esforço especial para nos tratar bem...
Parisienses parecem indiferentes e acostumados a ver a turba enfurecida tomar de assalto sua cidade como bárbaros tomando Roma. Se eu fosse morador de Paris pensaria seriamente em me mudar de lá. A cidade está suja, não há sossego em lugar algum, aqui um grupo imenso de japoneses impede a passagem de quem quer que seja, ali turistas italianos gritam como loucos, acolá a excursão de velhinhos espanhóis para tudo ao seu redor... E haja lixo!
Ainda assim, os Parisienses não me pareceram o povo incrivelmente educado do qual me falavam. Vi mais de uma pessoa cuspindo na rua, NUNCA vi alguém oferecer lugar a outra pessoa (idosos, mulheres, gestantes, etc) no metrô. Eu ofereci meu lugar duas vezes. Na primeira o velhinho passou por mim sem me ouvir (acho que como eles não fazem isso o senhor não percebeu o que estava acontecendo) e na segunda uma senhora recusou polidamente, mas com muita desconfiança do gesto - será que achou que eu era tarado por senhoras? Juliana deu seu lugar a uma senhora e ela só faltou beijá-la na boca de tão agradecida. Estava claro que isso não acontecia naquele lugar.
Os belgas de Bruxelas são muito, mas muito mais educados que os parisienses. Também viemos num fim de semana especial, é bom que se diga, o que talvez torne a análise pouco efetiva, mas em Brugge, onde o turismo é a alma da economia, eles também são muito atenciosos.
Em Londres nos comunicamos em inglês, evidentemente - Juliana é fluente na língua da rainha, ainda que da escola que fica do outro lado do Atlântico. Em Paris muita gente fala inglês o suficiente e muita gente fala inglês muito bem - pelo menos aqueles que trabalham com turismo. Na Bélgica TODOS falam francês e inglês muito bem, além de holandês.
Assim, no continente nossa comunicação (já que não falamos mais do que o básico em francês) virou uma espécie de novilíngua - para usar um termo do George Orwell. É um tal de s'il vous plaît, water, please? para cá, pardonne-mois, how much is the coke? para lá, e fica tuuuudo bem. Viva Chacrinha!
Hoje mesmo quando voltamos de Brugge, saindo da Gare de Midi (a estação de trem) um senhor me ofereceu um iPhone (ou algo parecido, mas vindo do mercado negro, se é que você me entende). Pensando em português eu disse a ele: s'il vous plaît!, como quem diz em português por favor, sai fora! Claro que ele entendeu que eu queria o produto e veio atrás de mim. Juliana e eu rimos muito da minha confusão...
Aliás, outra confusão aconteceu comigo em Paris, dessa vez não por causa da confusão de línguas, mas do meu, digamos, physique-du-rôle de cocainômano... Um homem negro, provavelmente de algum lugar do norte da áfrica, dirigiu-se a mim num dialeto que não compreendi. Disse a ele, já com um tom de voz do tipo me deixe em paz - claramente tratava-se de um nóia - que não falava francês. Ele debruçou-se, levou sua boca quase ao meu ouvido e disse: cocaine... Peraí! Nem na França eu escapo deste estigma???
Por fim, uma última observação. A questão da imigração é séria e preocupante em todos os lugares para onde fomos, exceto Brugge, onde ficamos um só dia e não tenho condições de fazer uma análise mais profunda.
Ontem mesmo li num site brasileiro que na Alemanha, Judeus sentem-se ameaçados mais uma vez graças a uma polêmica quanto à circuncisão. Mas não são apenas os judeus na Alemanha. Há os indianos e os muçulmanos em Londres - muitas mulheres de burca andam nas ruas de lá. Há argelinos e outros povos de origem árabe - sem véu islâmico - em Paris. E há brasileiros, árabes e muitos outros em Bruxelas.
Estas pessoas, muitas delas ilegais, trabalham como recepcionistas, vendedores - de rua às vezes, muitos com turismo, muitos e muitas em serviços de hotelaria - garçons, arrumadeiras, etc. Em tempos de economia em alta, tudo bem. Mas e agora com as coisas como estão? Sabemos do histórico dos europeus com intolerância - vide primeira e segunda guerras, Iugoslávia, Tchecoslováquia, antiga União Soviética...
Eu não gostaria de ser pessimista, mas não acho que isso possa dar certo se as coisas - as coisas econômicas, sobretudo - não entrarem no eixo. Tomara que Merkel e companhia consigam segurar o euro, senão...
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