quarta-feira, 3 de novembro de 2010

MINHAS MULHERES

A contradição fundamental, em minha vida, é que tenho pouca tolerância com os homens – de maneira geral – e tenho com as mulheres meus melhores momentos sempre.

Isso não significa – nem nunca significou – que eu tenha me tornado um grande “performer” sexual, tampouco que eu não seja um homem absolutamente atípico na medida em que sou muito mais “mulherzinha” do que a maioria de meus amigos. Que a maioria das minhas amigas... Sou “bichinha” mesmo.

Eu não sou sedutor também, que fique claro. Isso não é discurso para atrair mulheres. Primeiro porque elas não quereriam. Segundo porque já tenho a minha e estou muito feliz com ela.

Digo isso tudo porque tenho tido vontade de falar sobre as mulheres de minha vida. Sempre esperando que não seja injusto com as outras, minha lista inclui Lelet, Kau, Léo e Juliana. Cada uma delas me inspira de alguma forma. Hoje vou falar sobre a Lelet.

Tudo o que sei e penso sobre a vida passa por minha irmã mais velha. Lembro-me de caminhar pelas ruas esburacadas da periferia de Santo André quando acompanhava Lelet em direção ao seu ensaio de teatro.

Eram tempos bicudos, ditadura militar – 77, 78 talvez – eu criança, ela adolescente. No ensaio, meio “Hair”, ela era o “povo” em volta de quem as forças opressoras eram, paulatinamente destruídas. Ela nunca deixou de lutar contra estas “forças opressoras”. Claro, de outra forma. Hoje supervisora de ensino, ainda me surpreende sua saúde para entender e pensar o país mesmo depois de inúmeras frustrações.

Depois, menino, foi quem mais me incentivou a estudar. Era uma presença sempre delicada, positiva, sempre me tratou como criança quando sabia que era necessário e como ser pensante quando devia.

Lembro-me de perguntar a ela, quando tinha 14 anos, o que ela achava de deus. Qualquer pessoa menos preparada tergiversaria. Não ela. Disse-me com todas as letras que não acreditava no deus cristão. Foi o suficiente para que minha convicção a este respeito se consolidasse. Eu era ateu aos 14 anos.

Nunca se espantou com minha sexualidade ambígua, mas honesta. Forjou minha admiração pelo feminino. Sua força nunca me oprimiu. Gosto de me olhar no espelho e ver minha irmã.

Lelet me ajudou a me tornar um homem que ama, admira, respeita e reafirma a força do feminino. Não pretendo me subestimar e correndo o risco de cair num clichê, com mulheres assim fica bem difícil não pensar que a grande sabedoria está com elas...










4 comentários:

  1. Bacana, é engraçado e tocante como isto que escreveu parece um conto, uma ficção.. mas na verdade é real, é sua vida.

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  2. É André... Ficção e realidade às vezes se misturam. Acho que é por isso que eu gosto de arte. Vida e arte são quase a mesma coisa...
    Que bom te ler aqui, André. Abraços.

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  3. Me lembro muito da coisa meio "hair" e de como a diretora da escola, sempre que ficava fula da vida comigo, dizia: "Depois que você participou dessa peça ficou ainda mais abusada. Eu era mesmo impertinente. Acho que não captava a verdadeira dimensão do que acontecia naqueles tempos.

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  4. Adoro nossa "impertinência". É nosso traço de rebeldia...

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