Sempre achei as cores do outono as mais bonitas do ano. Infelizmente, entretanto, elas também trazem junto a melancolia. Não sei bem quem primeiro uniu as duas coisas - melancolia e outono. Provavelmente tenha algo a ver com o brilho do sol, que se torna menos intenso, preparando para o inverno que logo chegará. Não é à toa que chamamos de "o inverno de nossas vidas" o momento no qual a morte se avizinha. Há também a questão do ciclo se fechando: a primavera é a infância, o verão a juventude, o outono a maturidade e o inverno a velhice.
Essas conjecturas devem-se ao fato de que estou, de fato, um tanto melancólico. Por nada em especial, por tudo um pouco. A alergia - sempre rediviva no outono - é um tanto incômoda, mas não é motivo para deixar ninguém assim já que não representa nenhum perigo. Exceto quando se tratava daquela mais grave que me atacava os pulmões quando eu era criança e que foi a responsável pela mudança de minha família para o interior... Mas essa é outra história.
A verdade é que quase tudo de ruim, para mim, está relacionado ao outono ou ao inverno. Dia 14 de julho é meu dia oficial de luto, auge do frio - falo sobre isso um dia destes. Santo André, minha cidade natal, era um lugar bastante frio em minha infância e eu quase sempre estava doente lá, motivo pelo qual não tenho boas lembranças deste período. Agora, mesmo que eu tenha bons motivos para estar feliz depois de ter duvidado tanto de que isso seria possível, ainda assim a melancolia me abate.
O certo é que somos todos tão parecidos em nossas vulnerabilidades... Lembro-me de um personagem de Strindberg (dramaturgo sueco morto no início do século XIX, existencialista e expressionista) que passa a vida toda trabalhando para realizar o sonho de ter uma rede para pescar camarões da cor verde e que, quando finalmente consegue realizar tal sonho descobre que o tom de verde não era exatamente o que sonhara.
Que não me entendam mal as pessoas que me amam e a quem amo (Ok, Petit?), mas somos todos muito insatisfeitos! Queremos a felicidade, depois amar, então queremos a imortalidade, o sucesso pleno, ser amados por uma multidão, que a multidão nos deixe em paz, queremos então ficar a sós, toda a companhia do mundo, mais dinheiro, um cachorro ou um gato, um filho ou dois, nenhum animal a quem se apegar, filhos nem pensar, a casa muito limpa, que a diarista se vá o mais rápido possível, escrever como shakespeare, esquecer a influência dos outros e escrever apenas como nós mesmos, ah... Como somos insaciáveis! Muito bem: EU sou insaciável.
Nestes dias de outono, quando as cores das coisas se modificam, tudo se volta contra nós. Agora há pouco um enorme arco-íris se fez aqui na janela entre os prédios da Vila Mariana. Por mais solar que ele fosse, ele era também melancolia. Quando cores tão solares surgem à sua frente no outono elas apenas te lembram o quanto você está distante daquele estado. O claro que evidencia o escuro...
Quero ir à praia. Nada é mais melancólico do que praia no outono. E mais belo. Aliás, a foto que está aí em cima é do Guarujá. Pôr-do-sol combina com outono. Crepúsculo. Agora, repentinamente, tive medo de afugentar meus leitores. Tudo bem. Seria um motivo a mais para me sentir assim. Melancólico.
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