terça-feira, 21 de abril de 2009

A BELA AMERICANA E A FERA BRITÂNICA

Todos devem ter visto, ouvido ou lido algo a respeito da escocesa Susan Boyle. É aquela senhora que deixou os jurados e o público da versão britânica do concurso para cantores boquiabertos graças à sua voz exuberante. Mas afinal o que há de tão extraordinário nisso? Não era mesmo a voz dos candidatos que deveria ser testada? Em termos...
O que se viu no caso da escocesa é o quanto esses caras do show-business podem ser preconceituosos. O que se julga nunca é apenas o talento. Isso não basta para o mercado. Talento não tem necessariamente nada a ver com sucesso. Para a máquina de moer carne do mercado, talento é uma ínfima parte de uma equação que contém grandes quantidades de juventude, sex-appel, beleza e capacidade de se promover, coisas que, evidentemente a escocesa não possuia.
Tome-se o exemplo do mesmo concurso em sua versão brasileira: o vencedor não foi o mais talentoso - um rapaz chamado Rafael Bernardo, de longe o mais capacitado para a profissão de cantor - mas sim um outro com algum talento mas com muito mais beleza.
A velha máxima do modo de vida americano, no qual a força de vontade e a perseverança são capazes de nos levar ao limite do sucesso, não contém o elemento talento. Não à toa, os americanos do norte são, em sua média, o povo mais medíocre do planeta e, ainda sim, a potência hegemônica. Foram eles que ensinaram a nós todos esta fórmula. Foram eles que nos apresentaram o "loser".
Aquela senhora escocesa é a anomalia do "sistema" segundo o qual um perdedor será sempre um perdedor. Depois de ser ridicularizada pelos jurados e pelos protótipos de vencedores - aquelas belas jovens fazendo caretas ao encarar a feiúra da escocesa dizem tudo - a "loser" deve ser transformada imediatamente em vencedora, eles não podem admitir que a fórmula é falha! Isso seria perigoso demais! Se todos os desdentados descobrirem que podem ter algum talento... Ai que medo! Então "eles" abrem as portas para que um ou outro destes passe pela fresta. Essa comoção será suficiente para que mantenham por mais algum tempo a multidão de fracassados sob controle.
Então, os jurados fazem a catarse e nos esquecemos do quanto eles tripudiaram, humilharam, esculhambaram! Um dos jurados do programa britânico, um tal de Piers, está participando de um programa americano com celebridades. Para quem tiver estômago, dê uma olhada no caráter dele. É de enjoar. É este tipo de gente que faz girar a máquina de moer carne humana que é o show-business.
Enquanto isso, no concurso de miss Estados Unidos, outra polêmica. Só que desta vez trata-se de uma linda americana média e não de uma obscura escocesa. A miss Califórnia ficou em segundo lugar no concurso porque, especula-se, ao responder o que achava do casamento gay, se expressou de forma contrária! Mas o que se esperava da moça? Ela é uma americana média que se inscreve num concurso dos mais conservadores, onde qualquer declaração mais à esquerda é confundida com anti-americanismo! McCarthy pode ressuscitar dependendo do que você disser num concurso destes! Aliás, não foi a Califórnia que decidiu em referendo acabar com o casamento gay? Ela apenas representou a população de seu estado! E ela nem foi tão infeliz quanto a outra miss, que disse ter se divertido muito em Guantánamo! Nem disse que a camisinha não ajuda a conter a disseminação do HIV! Nem disse ser a favor da excomunhão de médicos que fazem um aborto numa criança para poupar-lhe a vida!
Eu vou propor uma troca: os jurados do concurso de miss vão para o concurso de música e vice-versa! Olha só: a miss Califórnia vai ser coroada o mais novo talento da música britânica e a senhora escocesa torna-se a nova miss Estados Unidos! Não é genial?
Beijos e até a próxima.
P.s.: Após escrever este artigo li na Folha de São Paulo de hoje uma coluna de João Pereira Coutinho que vale a pena ser lida. Num estilo e numa linha de raciocínio um pouco diferentes, ele chega às mesmas conclusões que tirei acerca de Susan Boyle. Chama-se "Senhora das Tempestades".

Nenhum comentário:

Postar um comentário