Quando se está no fundo, submerso, é possível ver coisas contraditórias: o azul de tudo ao redor, as cores de todas as criaturas, cavalos marinhos em sua delicadeza estúpida! Acima, uma luz que pode ser a do fim do túnel ou a que nos apresenta o outro lado, o pos mortem – segundo crêem alguns.
Era neste mundo que vivia desde 2000. Emergir era um trabalho lento, dispendioso, confuso, delicado.
Na solidão da casa da Pompéia – que eu mesmo pintei, parede por parede, canto por canto – eu podia ver todos esses seres que povoam a vida de quem tenta encontrar motivos para continuar a dar braçadas, apesar de sentir-se numa espécie de útero, que é o mesmo que “não-vida”, já que anterior a tudo, que é o mesmo que posterior a tudo, que é uma espécie de morte, ainda que mais confortável.
Em meu calendário particular o quarto ano não levava à realização da próxima copa, eu estava, digamos assim, acompanhando o calendário olímpico: o ciclo se iniciara na olimpíada de 2000, em Sidney, quando eu me encontrava só, triste, etc. e chegaria à de Atenas em 2004, época em que eu voltaria e ver o mundo sobre meu mundo particular.
Minha copa de 2002 restringe-se ao jogo contra a Inglaterra, que assisti na casa de Daniel Alvim e Talita de Castro, junto com o Pessoal do Faroeste e à final, contra a Alemanha, que vi em minha casa, outra vez só.
Acontece que dei vexame nas quartas, após o gol da Inglaterra. Comecei a chorar logo, bobo que sou! O gol do Rivaldo com passe do Ronaldinho e o gol de falta deste último aliviaram minha barra, mas eu já havia me exposto, ferida aberta.
Ainda que eu não estivesse particularmente indisposto com o mundo eu choraria, sabia disso. As emoções estavam se confundindo e eu mostrava-me como um fraco do estômago, um despreparado para a vida.
Então decidi: veria a final só. Não iria dar ao mundo a possibilidade de me ver outra vez fratura exposta caso o pior acontecesse contra a Alemanha. Deitado em minha cama no segundo andar da casa da Pompéia, via aquele tubo emissor de luzes, muito parecido com aquele outro que ficava no alto da sala da casa da rodoviária de Campinas, oito anos antes, e era como se aquilo fosse a luz obscura dos suicidas arrependidos.
Nos tempos que viriam algo de bom poderia acontecer outra vez. Não um bom definitivo, claro. Mas bom apenas. Tranqüilo, triste. Mas bom. Meu calendário iria se modificar em breve. Já não seria de quatro em quatro anos para a Copa, tampouco de quatro em quatro anos para as Olimpíadas. O ano seria 2005.
Chorei sem que ninguém me visse. Eu via o Brasil campeão pela segunda vez, lágrimas nublando Cafu levantando a taça. Cafu levantando a taça, eu pensando que era tempo de emergir.
Eliseu seu blog é espetacular, d+, muito bacana desejo muito sucesso em sua caminhada e objetivo no seu Hiper blog e que DEUS ilumine seus caminhos e da sua família
ResponderExcluirUm grande abraço e tudo de bom
Ass:Rodrigo Rocha
Querido Rodrigo:
ResponderExcluirÉ sempre bom quando alguém gosta das coisas que escrevo. Espero que volte e que continue comentando, criticando, se divertindo.
Abraços.
Eliseu Paranhos