Toda vez que vou à Campinas volto estranho. Mexido. Prefiro sempre sair da estrada e ir direto à casa de minha mãe, sair de lá direto para a estrada, de volta à minha vida, distante de uma série de memórias, quase sempre doídas.
Desta vez, Juliana e eu ficamos no hotel Vila Rica, algo impensável em minha infância e adolescência. Fomos ao parque Taquaral para andar de pedalinho. Não conseguimos. Ao invés disso, os fantasmas me assaltaram.
Aquelas árvores escondem muitas dores, amores frustrados, perdas. Campinas não rima com felicidade.
Segunda feira de ressaca, vontade de ficar em meu canto.
Então fui ver Câmera da Loucura, documentário de Bia Trevisan e Stephany Simoni – Bia filmou e fotografou meu espetáculo no SESC Interlagos há duas semanas e eu estava, há dias, prometendo que veria seu trabalho de TCC, que foi supervisionado pela Professora Doutora Clarete Paranhos, minha irmã.
Menina especial essa Bia. Romântica de dar medo! Lembrei-me de mim em sua idade. Gente assim, veias abertas, portas abertas, estão sempre à volta com dores. Dores suas, dores do mundo, um frio na barriga constante...
É o que se vê em Câmera da Loucura. Um olhar afetivo, gentil, aconchegante sobre a loucura. Assim mesmo, loucura, sem meias palavras, os próprios pacientes se denominam loucos, eles talvez menos do que o resto de nós, sempre buscando uma normalidade inócua, inoperante, pobres que somos, querendo sempre controlar tudo, o tempo inclusive.
Nestas horas lembro-me dos motivos que me tornaram artista. A arte é transgressora e é, acima de tudo, transformadora. Não importa se conseguimos chegar a poucos ou a milhões. O olho do artista é, de algum modo, o olho do louco. É a íris que refaz, revê, transforma. Seja a dos olhos ou a íris da câmera. Como a íris da Câmera da Loucura. Como a loucura da menina Bia que é tudo, menos normal. E isto não é uma crítica...
P.s.: Para ver o documentário digite Câmera da Loucura no youtube. Ele está dividido em duas partes.