segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A GAROTA DA UNIBAN – PARTE II



Tenho ouvido algumas opiniões acerca do incidente na UNIBAN que vão de encontro às que tenho emitido, inclusive em meu último artigo aqui no blogue. Vamos a elas.

Mais de uma vez me disseram que “alguma coisa a garota fez para que os alunos tivessem aquela reação”. Este é o típico argumento dos regimes de exceção nos quais somos todos culpados até que provemos nossa inocência. Parece-me que quem faz uso deste tipo de argumento está a um passo de raciocínios totalitários. Há não muito mais do que 60 anos, a simples suspeita de que suas convicções não se alinhavam com as dos regimes da Itália e da Alemanha, ou - para falar da ideologia diametralmente oposta, mas igualmente totalitária – da União Soviética, bastava para que sua vida se transformasse numa obra de Kafka até que você convencesse os tais regimes de que era inocente. Assim, esta lógica segundo a qual a garota deve ter merecido a reação em cadeia, carece de alguma – senão de toda – boa vontade.

Indo adiante e desenvolvendo melhor um dos argumentos que já esbocei em meu último artigo, aos homens sempre nos foi dado um direito – que de resto parece inalienável – de sermos sexualmente ativos de maneira ostensiva (vide a quantidade enorme de mulheres que são assediadas diariamente, para não falar de outras formas bem mais agressivas de abordagem) sem que sejamos xingados, ameaçados ou quase agredidos. Talvez essa seja a maior afronta da garota, a de ter a coragem de se equiparar aos homens.

Quanto às garotas (sejam elas as que se alinharam aos colegas do sexo masculino na agressão, sejam as que observaram o incidente de longe, mas que também sentem-se incomodadas com a atitude ativa da aluna), pode haver na impossibilidade de se solidarizar um “quê” de frustração íntima com o fato de não terem coragem de exercer esta liberdade, uma ponta de inveja pela atenção natural que esta liberdade provoca nos homens. Caso contrário, fosse apenas a sensação de que a outra faz uso de uma vulgaridade que a elas não lhes cairia bem, não seria necessário concordar, ainda que de forma velada, com a agressão a que foi exposta a menina do vestido curto.

Ainda, que, de alguma forma, a moça tenha “provocado” - como argumentam alguns. Ora, quando as regras sociais são claras, quaisquer que sejam as instâncias, as consequências das quebras destas regras também são claras. Se a moça “provocou”, onde estava a instituição que não tomou uma atitude antes? Se houve uma inadequação quanto ao vestuário, qual foi a atitude da universidade quando se deu conta de que uma regra de conduta fora quebrada? Após a falha da instituição nos itens anteriores, ainda assim a atitude dos alunos e alunas (dizem que funcionários e professores participaram da barbárie, não sabemos bem) foi correta e/ou proporcional? Convenhamos, não foi.

Após todos estes erros o que se esperaria de uma universidade, de verdadeiros educadores? O mínimo que se esperaria era um debate de alto nível, nunca a expulsão sumária da “criminosa do vestidinho curto”. Senhores! Educação, senhores! Estamos fartos de discussões rasteiras e de agressões baratas!

Para terminar: se a moça realmente tem dito que pretende ser atriz, se após tudo isso descobrirmos que se tratava de uma candidata a celebridade, que ela realmente era uma exibicionista, etc, etc e etc, então podemos e até DEVEMOS promover um debate a esse respeito. Até lá, este será um assunto acessório que, de forma alguma, esconderá a irracionalidade quase nazista, a reação coletiva fundamentalista daquela turba.

Eliseu Paranhos

3 comentários:

  1. Olá, Eliseu.
    Tudo bem, rapaz?

    Cara, escutei teu trabalho musical aqui na net e tá excelente. Parabéns!! Gostei das letras, melodias e arranjos.
    Terxtos aqui do blog afiadíssimos!

    Abração!

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  2. Oi, Eliseu!
    Não li os comentários, mas realmente as pessoas têm defendido posições pessoais como se fossem opiniões imparciais e éticas. Concordar ou não com o comportamento dela não está em questão. A lembrança dos regimes totalitários, nesse ponto, é mesmo inevitável.
    Também concordo que houve um atraso e uma desproporção nas reações ao suposto mal comportamento da garota (tanto por parte da instituição quanto dos alunos). Legal que vc está escrevendo.
    Saudades de você. Um dia sai aquele café.
    Beijo,
    Mano.

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  3. É impressionante como vivemos em uma sociedade ambíguoa. Ao passo que vivemos um crescente individualismo, em que é comum nao conhecermos nosso vizinho morando anos ao lado dele, ocorre um episódio desses, em que um vestido, uma garota incomodam tanto um grupo de pessoas que ocorre algo tao lamentável. Sém dúvida, é um desafio para sociologos, psicologos, e outros profissionais entenderem determinados fenômenos da vivência do ser humano em sociedade.

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