Sou eu o homem, eu sofri, estive lá.
(Walt Whitman)
Tanto a minissérie "Maysa" quanto o filme "Cazuza-O Tempo Não Para" cometeram o mesmo pecado, em minha opinião: apresentam como mimados, egoístas e superficiais personagens que tinham nestas características uma parte - e tão somente uma parte - menos importante e impactante de suas personalidades. Além de serem realmente aquilo tudo, eram tristes, excessivamente intensos e valorizavam um viés da existência bastante distinta da cultivada - ou mesmo enxergada - pela maioria das pessoas que os rodeavam. Isso aumentava neles, em muito, a sensação de solidão que todos sentimos.
A primeira escreveu estes versos: "Todos acham que eu falo demais/E que ando bebendo demais/Que essa vida agitada não serve pra nada/Andar por aí, bar em bar, bar em bar/Dizem até que ando rindo demais/E que conto anedotas demais/Que não largo o cigarro e dirijo meu carro/Correndo, chegando no mesmo lugar/Ninguém sabe é que isso acontece porque/Vou passar minha vida esquecendo você/E a razão porque vivo esses dias banais/É porque ando triste, ando triste demais (...)". Não cortem os pulsos ainda leitores, lá vem Cazuza: "Eu não sei o que o meu corpo abriga/Nestas noites quentes de verão/E nem me importa que mil raios partam/Qualquer sentido vago de razão/Eu ando tão down/Eu ando tão down/Outra vez vou te cantar, vou te gritar/Te rebocar do bar(...)". Essas pessoas não podiam ser apenas adultos mimados. Havia um substrato alí que mergulhava na melancolia pelos motivos mais diversos.
E por que estou falando disso tudo? Por que andei vendo na Internet alguns vídeos com uma outra Maísa (uma menina de seis anos) sendo vilipendiada em rede nacional por um conhecido apresentador de televisão que fez fortuna com o infortúnio alheio. (É fácil de achar: entre no youtube e digite Maísa).
Adultos são produtos das crianças que pudemos ser. Será que ninguém vai fazer nada acerca do crime que estão cometendo com esta menina? O que fazem a mãe e o pai dela? Onde estão, como podem assistir a tudo incólumes? Daquele senhor que a maltrata não podemos mesmo esperar muito, mas os pais? Eles deveriam defendê-la! E ainda há uma tia da menina que anda dizendo que a repercussão do caso é desproporcional, que a menina é assim mesmo... Assim mesmo como, "cara-pálida"??? Sensível, demais? É isso? E por que ela é sensível demais??? A menina nem sabe o que estão fazendo a ela. Esses pais estão armando uma bomba-relógio e quem vai pagar a conta é a pobre Maísa.
Definitivamente nós não sabemos tratar essas pessoas. Nós as matamos. É claro que, muitas vezes, não podemos fazer nada por alguém, mas sempre podemos ver os sinais. O deus "mercado" pode tudo, inclusive moer a carne de quem ele quiser para lucrar. Me lembro de tantos... Cássia Éller, Renato Russo, Kurt Kobain, só para citar alguns, gente que estava triste, que precisava de ajuda... Nós adoramos ver as pessoas serem imoladas em praça pública. E o maldito "mercado" também...
Não acredito que estou exagerando, honestamente. Nem sei como EU pude me safar e sei o preço que paguei por isso! O ministério público notificou a emissora e a ameaça com a possibilidade de reclassificação do programa para após as 20 horas... Eu estou pouco me importando com a reclassificação do programa! Estou preocupado é com a saúde da menina!
Vou esperar os próximos passos, mas fica aqui minha indignação.
Abraços.
P.s.: Alguns estão tendo dificuldades de deixar comentários. Sei que às vezes é difícil, mas se insistir funciona, eu já tentei. Entretanto, se preferir, pode mandar seu comentário para elispar@ig.com.br com a observação "autorizo a publicação deste comentário em seu blog".
Caro amigo, Sobre a distorção que a mídia faz dos importantes personagens artísticos de nossa história, eu acho que é devidò a importancia que o público geral dá para a "personalidade forte" (o barraqueiro) que faz com que as outras características mais importantes não apareçam. Eu gostaria de ver Mario de Andrade, enquanto trabalhava na Secretaria da cultura, acovardando-se na frente do milico, refugiando-se en sua casa e escrevendo uma carta para aquele mesmo milico que o acovardou. Isso é forte, mas não vende.
ResponderExcluirBlivet, Luís. Prof. Física/ Músico (Sanfona)
Eu postei como anônimo por problema para postar
Como mãe eu fico muito indignada com pais que permitem tais coisas com seus filhos, a começar por permitir a menina a participar desses programas. Essa sede de fama e dinheiro leva certas pessoas a esquecerem seus próprios instintos, instintos maternos, proteção... Tanto que nem dá para ficar indignado com o tio dono da grana, a gente já espera essas coisas dele.
ResponderExcluirEva
As produções cinebiográficas nacionais em geral são muito fracas pois vem já embutidas com uma falsa necessidade novelística de pasteurizar a vida dos artistas em questão, e isso não acontece só com músicos, veja por exemplo os filmes que falam da Zuzu Angel e da Olga Benário, ambos são horríveis. A vida de determinados artistas e celebridades em geral dariam ótimos filmes, se fossem feitos de forma mais descompromissada com a renda e mais com o objetivo de imparcializar a vida do sujeito e talvez com um toque mais pessoal do diretor, sem medo de errar(polemizar) e com mais medo do pastiche.
ResponderExcluirO caso da Maísa é pontual, mas não tão novo, nada que já não tenha acontecido com Balão Mágico, Dominó e tende a se repetir com a filha da Xuxa, vide o concurso que esta realiza em seu programa com o intuito de arranjar um "Príncipe" para Sacha, para o seu novo filme com participação da filha. Lá se faz e aqui se paga.
Bem, sempre me incomodou muito a exposição desta menina, a Maísa. Com me incomoda o que acontece com tantas crianças neste país. Como pessoa ligada à educação , vejo coisas indescritíveis e que passam desapercebidas (??) por não estarem na mídia. Ando desanimada com as pessoas adultas que fazem isto com as crianças. Quando vejo isto, sempre me vem à mente uma canção da década de 80: "eu acredito na Xuxa e no Pelé/ eu acredito / não vai haver amor neste mundo nunca mais"
ResponderExcluirComeçando por Cazuza, reescrevo aqui a manchete da capa da Revista Veja: "Cazuza agoniza em praça pública". Não é de hoje, como você mesmo escreveu, que "cenas" como essas acontecem. A revista Veja está entre as 5 revistas mais vendidas no mundo, sendo que a Veja é a única que prevale com outros assuntos, que não falem apenas em entretenimento. E ela vende a cada dia mais, mesmo com manchetes como essa.
ResponderExcluirO problema é que esses veículos sabem o que vende e o manipulam assim porque nós compramos. É um pecado o que estão fazendo com essa menina e, pecado maior, são os pais (se assim posso chamá-los), que permitem tal atrocidade.
É muito fácil rir e julgar acontecimentos como esses, porque eles não acontecem dentro da gente. Só Maysa, Cazuza (que já sentiram) e a inocente Maísa que ainda vai sofrer os danos dessas ações que nos são oferecidas como um proveitoso entretenimento.Trágico e triste.
Fico indignada junto contigo Eliseu e não quero ser uma Comunicadora Social desse nível. Pode ter certeza que "Não há vento favorável para quem não sabe aonde vai".
Um abraçãoo mestre, adoro suas palavras.
Daiane Louise Basso