terça-feira, 24 de agosto de 2010

20 ANOS SEM CAZUZA

"Se você quer saber como eu me sinto/
vá a um laboratório ou a um labirinto/
seja atropelado por este trem da morte/
vá ver as cobaias de deus/ andando na rua, pedindo perdão/
vá a uma igreja qualquer pois lá se desfazem em sermão..."

Música da última safra, quando seu corpo e sua voz já estavam se esvaindo, Cobaias de Deus foi uma parceria com Angela Rô Rô. Repleta de imagens desesperadoras e desesperadas, era uma despedida que dialogava com o lado "blue" de Cazuza.

"Eu não sei o que meu corpo abriga
nestas noites quentes de verão
e nem me importa que mil raios partam
qualquer sentido vago de razão
Eu ando tão down
Eu ando tão down
Outra vez vou te cantar vou te gritar
te rebocar do bar"

Aquela visão amplamente aceita segundo a qual Cazuza era só mais um garoto mimado da zona sul carioca nunca me convenceu. Havia sim o lado "exagerado", mas era a faceta que maquiava a alma atormentada, complexa, desfocada, para o bem e para o mal. Ninguém adota aquela persona displicente à toa.

O cara não devia gostar muito do que via no espelho (tempos depois Renato Russo escreveu que "nos deram espelhos e vimos um mundo doente"). Depois de ver a ditadura militar chegar ao fim e de passar toda a década de 70 fazendo amor como nunca se fizera, repentinamente as pessoas começavam a morrer de uma doença estranha que aniquilava, preferencialmente, aqueles que faziam apologia do amor livre. Parecia uma maldição, um castigo!

Não sei se coincidentemente ou não, os poucos que sobreviveram se viram obrigados a "encaretar". Ok, há a idade, não se pode viver uma vida toda de excessos. Afora as drogas e o álcool e a vida desregrada, não haveria um lugar para os rebeldes mesmo no mundo adulto?

Vejam a Ângela Rô Rô, parceira de Cazuza em "Cobaias de Deus". "Encaretou"? Parece. Andou escrevendo:

“É o que pulsa o meu sangue quente
É o que faz meu animal ser gente
É meu compasso mais civilizado e controlado
Estou deixando o ar me respirar
Bebendo água prá lubrificar
Mirando a mente em algo producente
Meu alvo é a paz!”

A diferença para os idos de oitenta é imensa! Controlar o animal, beber água, mirar a mente em coisas producentes, quanta civilização! Já antes:


“Amor, meu grande amor
Só dure o tempo que mereça
E quando me quiser
Que seja de qualquer maneira...”


Ou para citar Milton Nascimento e Caetano Veloso, outros que “encaretaram”:


“Eles se amam de qualquer maneira a vera
Eles se amam é pra vida inteira a vera
Qualquer maneira de amor vale a pena
qualquer maneira de amor vale amar”


Eu, de minha parte, "encaretei". E não sei se isso é bom ou ruim. O que sei é que tenho o perfil do "tiozinho", educador, artista comportado, "mainstream"... Até casei! Durmo de meia!


E Cazuza, como estaria agora, quando o PT vai fazer oito anos de governo com sérias ameaças de permanecer mais quatro, ao menos. Ele cuspiria na bandeira como fez no "Rock'n'Rio"? O que ele diria da Igreja Católica ser contra o uso da camisinha, contra o aborto e a união civil e a adoção por casais homossexuais?


Saudades de um pouco de rebeldia...


E você? Tem visto alguma rebeldia legal por aí?

5 comentários:

  1. querido Eliseu,
    dá pra traduzir o significado de "com sérias ameaças de permanecer mais quatro"? Ameaças? Sem pré julgamento, só queria entender. Bj.

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  2. Oi Eliseu! essa sua perguntinha foi incômoda. Pois constatei que não aparece mais nenhuma rebeldia legal por aí. Será que ficamos velhos e não enxergamos mais? Que cosa.... Tb fiquei com saudades dos 80´s.

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  3. Querida Clarete: vou responder a isso em meu próximo post.
    Beijos.

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  4. Thaís: Acho que estamos mais velhos, sim. Mas também acho que é possível tentar recuperar um pouco desta rebeldia. E com a vantagem de termos alguma maturidade para não fazer grandes besteiras! A idade tem de servir para algo, não é?...

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  5. acho q a moda é ser careta e ele seria tb

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