Conheci Marcelo Médici em 1997 quando ensaiávamos o espetáculo "Um Certo Faroeste Caboclo", um grande sucesso de público que não gerou quase nada de dinheiro a nenhum de nós. Foi, entretanto, um grande impulso na carreira de muitos daqueles que fizeram parte do projeto - Daniel Alvim, Luciano Gatti, Paulo Emílio Lisboa, Beto Magnani, Manuel Candeias, dentre outros - e teve uma boa repercussão na classe teatral e na crítica, que nos brindou com prêmios (melhor direção e coreografia no prêmio Coca-Cola para Paulo Faria e Luiz Miranda, respectivamente) e indicações (minhas músicas foram lembradas para os prêmios Coca-Cola e Apetesp e Lúcia Romano por sua atuação no Apetesp).
Médici interpretava um vilão boa praça, um Boliviano chamado Pablo, engraçado apesar de poderoso e perigoso. Em se tratando de um musical melodramático, já chamava a atenção o poder do humor que Marcelo emprestava ao personagem, conseguindo, sempre que entrava em cena, dar um grande respiro ao espetáculo.
Mais de dez anos depois e depois de muito "ralar", Marcelo Médici tornou-se conhecido do grande público graças a alguns personagens marcantes na TV Globo, mas graças, sobretudo, ao seu imenso talento cômico.
Fomos - eu, minha mulher, sua mãe e sua avó - assistir "Cada um com seus Pobrema", em cartaz às terças e quartas no teatro do Shopping Frei Caneca. Casa lotada, ingressos esgotados - espero que eles prorroguem a temporada - apenas ele em cena, quase duas horas de espetáculo e um verdadeiro show. Ele inventa, escreve, imita, se desdobra, improvisa, interage com a platéia, mostra um arsenal de possibilidades, uma virtude inacabável.
O melhor de tudo é que não se esqueceu nem um pouco das diversas agruras por que passou - e pelas quais a maioria de nós, atores, passamos - ao longo de sua carreira. Médici não se tornou um grande ator do dia para a noite ou a partir do momento em que pode ser visto na Rede Globo. Seu talento foi talhado ao longo de uma carreira difícil, atribulada. Teve - como todos nós - muitos altos e baixos, mais baixos do que altos, muitos momentos em que se viu sem perspectivas (me corrija se estiver errado, Médici!). O espetáculo, generosamente, mostra ao espectador comum o quanto a batalha pela profissão pode ser ingrata. E ele tira humor disso!
Não bastasse isso tudo, não se rende a um humor "chapa branca", pelo contrário, não deixa pedra sobre pedra, dá um chute na chatisse "politicamente correta" e, mesmo assim - ou talvez por isso mesmo - ganha a platéia como há muito tempo eu não via no teatro.
Minha admiração pelo Marcelo Médici remonta à minha admiração pelos cômicos, pela comédia, pelo teatro de revista, por uma série de excelentes atores e atrizes que têm seu talento minimizado pelo simples fato de se atreverem a fazer comédia! Quem não faz Shakespeare não pode jamais ser um "Sir". (Ele é tão sarcástico que começa o espetáculo contando a história de um ator que quer fazer "Hamlet". Como precisa de uma "proposta", decide-se por fazê-lo na língua do "p"!!! Que pândego!).
Eu me lembro que quando fazia UNICAMP havia uma grande discussão em minha turma a este respeito. Alguns de nós queria experimentar o que chamávamos de " a cor local", a tradição brasileira de fazer rir, de fazer chacota. Mas não éramos levados muito a sério. Muito tempo depois, em minhas experiências com Brecht, pude finalmente compreender o motivo pelo qual este dramaturgo alemão considerava a comédia um meio mais adequado para acançar seus objetivos de "subversão" - ah! que palavra antiquada!
"Cada um com seus Pobrema" é entretenimento, obviamente. Mas é um dos entretenimentos mais "subversivos" a que assisti nos últimos tempos, na medida em que critica quase tudo que há de pior na índole brasileira. E Marcelo Médici é um adorável subversivo que faz do merecido sucesso que alcançou uma ponte para refletir o seu tempo como poucos atores "sérios" conseguem.
Que essa tenacidade tenha vida longa. E que a gente se encontre por aí para rir do mundo e, principalmente, da gente mesmo. Abraços.
P.S.: Não esqueça de votar na enquete lá embaixo!
Médici interpretava um vilão boa praça, um Boliviano chamado Pablo, engraçado apesar de poderoso e perigoso. Em se tratando de um musical melodramático, já chamava a atenção o poder do humor que Marcelo emprestava ao personagem, conseguindo, sempre que entrava em cena, dar um grande respiro ao espetáculo.
Mais de dez anos depois e depois de muito "ralar", Marcelo Médici tornou-se conhecido do grande público graças a alguns personagens marcantes na TV Globo, mas graças, sobretudo, ao seu imenso talento cômico.
Fomos - eu, minha mulher, sua mãe e sua avó - assistir "Cada um com seus Pobrema", em cartaz às terças e quartas no teatro do Shopping Frei Caneca. Casa lotada, ingressos esgotados - espero que eles prorroguem a temporada - apenas ele em cena, quase duas horas de espetáculo e um verdadeiro show. Ele inventa, escreve, imita, se desdobra, improvisa, interage com a platéia, mostra um arsenal de possibilidades, uma virtude inacabável.
O melhor de tudo é que não se esqueceu nem um pouco das diversas agruras por que passou - e pelas quais a maioria de nós, atores, passamos - ao longo de sua carreira. Médici não se tornou um grande ator do dia para a noite ou a partir do momento em que pode ser visto na Rede Globo. Seu talento foi talhado ao longo de uma carreira difícil, atribulada. Teve - como todos nós - muitos altos e baixos, mais baixos do que altos, muitos momentos em que se viu sem perspectivas (me corrija se estiver errado, Médici!). O espetáculo, generosamente, mostra ao espectador comum o quanto a batalha pela profissão pode ser ingrata. E ele tira humor disso!
Não bastasse isso tudo, não se rende a um humor "chapa branca", pelo contrário, não deixa pedra sobre pedra, dá um chute na chatisse "politicamente correta" e, mesmo assim - ou talvez por isso mesmo - ganha a platéia como há muito tempo eu não via no teatro.
Minha admiração pelo Marcelo Médici remonta à minha admiração pelos cômicos, pela comédia, pelo teatro de revista, por uma série de excelentes atores e atrizes que têm seu talento minimizado pelo simples fato de se atreverem a fazer comédia! Quem não faz Shakespeare não pode jamais ser um "Sir". (Ele é tão sarcástico que começa o espetáculo contando a história de um ator que quer fazer "Hamlet". Como precisa de uma "proposta", decide-se por fazê-lo na língua do "p"!!! Que pândego!).
Eu me lembro que quando fazia UNICAMP havia uma grande discussão em minha turma a este respeito. Alguns de nós queria experimentar o que chamávamos de " a cor local", a tradição brasileira de fazer rir, de fazer chacota. Mas não éramos levados muito a sério. Muito tempo depois, em minhas experiências com Brecht, pude finalmente compreender o motivo pelo qual este dramaturgo alemão considerava a comédia um meio mais adequado para acançar seus objetivos de "subversão" - ah! que palavra antiquada!
"Cada um com seus Pobrema" é entretenimento, obviamente. Mas é um dos entretenimentos mais "subversivos" a que assisti nos últimos tempos, na medida em que critica quase tudo que há de pior na índole brasileira. E Marcelo Médici é um adorável subversivo que faz do merecido sucesso que alcançou uma ponte para refletir o seu tempo como poucos atores "sérios" conseguem.
Que essa tenacidade tenha vida longa. E que a gente se encontre por aí para rir do mundo e, principalmente, da gente mesmo. Abraços.
P.S.: Não esqueça de votar na enquete lá embaixo!
Querido Eliseu,
ResponderExcluirNessa loucura da net, muitas vezes demoramos a encontrar o que é dito sobre a gente... Muitas bobagens, sem dúvida, mas encontramos algumas coisas importantíssimas como essa seu depoimento a respeito do Cada Um. Como posso agradecer tanta sensibilidade? Fico extremamente lisonjeado por vir de você, um artista tão absolutamente talentoso em tudo que faz. Tenha certeza que minha admiração por ti é recíproca! um grande beijo e até uma próxima!
Marcelo