terça-feira, 31 de março de 2009

CASAMENTOS E SEPARAÇÕES

Fui solteiro até os 35 anos. Já achava que casamento não era para mim, que meu destino era mesmo ser um solteirão repleto de manias, daqueles que fazem tudo sempre do mesmo jeito, não suportam mudar a rotina em um centímetro, têm pouca paciência para as manias dos outros, enfim, um chato feliz. Ou nem tanto.
A verdade é que, depois de casado, descobri que sou um cara repleto de manias, faço tudo sempre do mesmo jeito, não suporto mudar a rotina em um centímetro, tenho pouca paciência para as manias dos outros, enfim, um chato feliz que encontrou alguém que suporta todas essas esquisitices, muito provavelmente porque é também ela uma esquisita daquelas. Costumamos dizer que nascemos velhos e que somos, ambos, muito, MUITO chatos. Além de exigentes, perfeccionistas, intolerantes com burrice, com incompetência, com gente preconceituosa... Não! Nem pense que somos dois misantropos! Também adoramos ver amigos, recebê-los eventualmente em casa, visitar pais, irmãos, sobrinhos, etc. Mas sabemos que, logo depois, poderemos voltar para nossa vidinha sem graça e cheia de regras, a mesma vidinha que nos dá tanta segurança e, ao mesmo, tempo liberdade.
É claro que somos dois previlegiados. Não são muitos os casais que podem desfrutar desta tranquilidade, a de ter as mesmas caretices, as mesmas manias, manias diferentes sempre compreendidas pelo companheiro, diferenças aparentemente inconciliáveis (como um ser ateu e o outro espírita, um ser bem liberal e o outro ser muito conservador) que nada interferem no cotidiano. E claro, também, que ambos sofremos bastante por amor antes de nos encontrarmos - quem não sofreu afinal?
Mas na altura em que nos encontramos já achávamos que não seríamos felizes, que éramos duas criaturas marcadas com um sinal da besta na testa que nos reservava apenas o direito de passar o resto dos dias lamentando. Ou que, pelo menos, teríamos que aprender com nossa própria solidão. Então surgimos um para o outro...
A grande vantagem de encontrar um amor na maturidade é que não temos mais a pretensão de que tudo deve seguir o enredo de um romance romântico, de um sentimento arrebatador e que cega. Não que não tenhamos direito a palpitações, a beijos quentes, a cartas de amor, à saudade eventual, à vontade de amor eterno. Agora, entretanto, também temos direito a reconhecer no outro o que há de diferente, de humano. Na visão do amante maduro não ficam ofuscadas as perebas, as ramelas, os chulés e outros quetais que, na canção de Chico Buarque "só a bailarina que não tem". É possível reconhecer no outro apenas alguém falível por quem se nutre um imenso amor, este sim invulnerável posto que será eterno. É facil saber que estamos entrando numa aventura que pretendemos que seja para o resto de nossas vidas, mas, se algo ocorrer durante o período em que estivermos percorrendo este caminho, ainda assim teremos entrado numa relação para sempre - apenas algo não deu certo, só isso...
Mesmo assim minha mulher vive sofrendo - e atentem para esse detalhe curioso - com as notícias de separação que lê em revistas que ela encontra quando vai à manicura. "Caras", "Contigo", "Quem", que me perdoem os periódicos dos quais me esqueci... Algumas vezes ela sabe da separação de pessoas bem próximas a nós primeiro pelas revistas! Parece meio lógico: seu amigo se separa daquela figura que você conheceu na última festa e não vai te ligar para contar "Oi, estou te ligando para avisar que me separei da fulana". Como alguns de nós são figuras públicas, a notícia vem pela revista.
Nestes casos ela sempre chega em casa arrasada. Separações sempre a deixam infeliz. É como se, separando-se alguém, isso a lembrasse de que também nós podemos nos separar. E sim, podemos nos separar, qualquer um pode. Mas isso não significa que devemos! Ou que devamos graças ao fato de que alguém se separou!
Impossível. Ela sempre se sente um pouco cúmplice. Como eu me sinto quando alguém que admiro morre, como se um pouco de mim morresse também. Nestas horas - quando a coisa gruda a ponto de doer - a melhor coisa a se fazer é fechar a "Caras", ora! Ou pular a página com o obituário, em meu caso!
Mas, afinal, por que as pessoas se separam? O amor termina? O sexo já não é tão bom? Divergências inconciliáveis? Seriam estes motivos fortes o suficiente para uma separação? Senão vejamos...
Não acredito que um sentimento como o amor possa chegar ao fim a não ser por um motivo grave. E quando digo grave quero dizer muito grave mesmo. Agressão, por exemplo. Não há amor que resista à violência. Traição? Também. Se há um pacto segundo o qual a relação deve ser monogâmica, esse pode ser um fator determinante. Mesmo assim pode haver o perdão, dependendo das circunstâncias. Não consigo ver motivos - afora esses e alguns outros poucos muito graves - que seriam capazes de destruir um amor...
Ok, você ama, mas o sexo já não é bom... Ora, há tantas formas de se renegociar isso! Solicitar, pedir outras formas de prazer! E há os sex-shops da vida com seus inúmeros utensílios capazes de esquentar uma vida sexual morna. Isso sem contar com aqueles que gostam de "swing" e outras formas de apimentar a relação - sempre contando com a cumplicidade do parceiro, obviamente.
E quanto às divergências inconciliáveis? Religião? Não é algo tão difícil. Descartemos fundamentalismos, é claro. Nada é mais insuportável do que alguém querendo te converter o tempo todo. Diferenças, no entanto, são aceitas. E viva a convivência na contradição. Mas motivo para separação? Tenha dó...
Será que eu fiquei careta antes do tempo? Ou me transformei num romântico de outra estirpe?
E você? O que faria você se separar?

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MARCELO MÉDICI

Conheci Marcelo Médici em 1997 quando ensaiávamos o espetáculo "Um Certo Faroeste Caboclo", um grande sucesso de público que não gerou quase nada de dinheiro a nenhum de nós. Foi, entretanto, um grande impulso na carreira de muitos daqueles que fizeram parte do projeto - Daniel Alvim, Luciano Gatti, Paulo Emílio Lisboa, Beto Magnani, Manuel Candeias, dentre outros - e teve uma boa repercussão na classe teatral e na crítica, que nos brindou com prêmios (melhor direção e coreografia no prêmio Coca-Cola para Paulo Faria e Luiz Miranda, respectivamente) e indicações (minhas músicas foram lembradas para os prêmios Coca-Cola e Apetesp e Lúcia Romano por sua atuação no Apetesp).
Médici interpretava um vilão boa praça, um Boliviano chamado Pablo, engraçado apesar de poderoso e perigoso. Em se tratando de um musical melodramático, já chamava a atenção o poder do humor que Marcelo emprestava ao personagem, conseguindo, sempre que entrava em cena, dar um grande respiro ao espetáculo.
Mais de dez anos depois e depois de muito "ralar", Marcelo Médici tornou-se conhecido do grande público graças a alguns personagens marcantes na TV Globo, mas graças, sobretudo, ao seu imenso talento cômico.
Fomos - eu, minha mulher, sua mãe e sua avó - assistir "Cada um com seus Pobrema", em cartaz às terças e quartas no teatro do Shopping Frei Caneca. Casa lotada, ingressos esgotados - espero que eles prorroguem a temporada - apenas ele em cena, quase duas horas de espetáculo e um verdadeiro show. Ele inventa, escreve, imita, se desdobra, improvisa, interage com a platéia, mostra um arsenal de possibilidades, uma virtude inacabável.
O melhor de tudo é que não se esqueceu nem um pouco das diversas agruras por que passou - e pelas quais a maioria de nós, atores, passamos - ao longo de sua carreira. Médici não se tornou um grande ator do dia para a noite ou a partir do momento em que pode ser visto na Rede Globo. Seu talento foi talhado ao longo de uma carreira difícil, atribulada. Teve - como todos nós - muitos altos e baixos, mais baixos do que altos, muitos momentos em que se viu sem perspectivas (me corrija se estiver errado, Médici!). O espetáculo, generosamente, mostra ao espectador comum o quanto a batalha pela profissão pode ser ingrata. E ele tira humor disso!
Não bastasse isso tudo, não se rende a um humor "chapa branca", pelo contrário, não deixa pedra sobre pedra, dá um chute na chatisse "politicamente correta" e, mesmo assim - ou talvez por isso mesmo - ganha a platéia como há muito tempo eu não via no teatro.
Minha admiração pelo Marcelo Médici remonta à minha admiração pelos cômicos, pela comédia, pelo teatro de revista, por uma série de excelentes atores e atrizes que têm seu talento minimizado pelo simples fato de se atreverem a fazer comédia! Quem não faz Shakespeare não pode jamais ser um "Sir". (Ele é tão sarcástico que começa o espetáculo contando a história de um ator que quer fazer "Hamlet". Como precisa de uma "proposta", decide-se por fazê-lo na língua do "p"!!! Que pândego!).
Eu me lembro que quando fazia UNICAMP havia uma grande discussão em minha turma a este respeito. Alguns de nós queria experimentar o que chamávamos de " a cor local", a tradição brasileira de fazer rir, de fazer chacota. Mas não éramos levados muito a sério. Muito tempo depois, em minhas experiências com Brecht, pude finalmente compreender o motivo pelo qual este dramaturgo alemão considerava a comédia um meio mais adequado para acançar seus objetivos de "subversão" - ah! que palavra antiquada!
"Cada um com seus Pobrema" é entretenimento, obviamente. Mas é um dos entretenimentos mais "subversivos" a que assisti nos últimos tempos, na medida em que critica quase tudo que há de pior na índole brasileira. E Marcelo Médici é um adorável subversivo que faz do merecido sucesso que alcançou uma ponte para refletir o seu tempo como poucos atores "sérios" conseguem.
Que essa tenacidade tenha vida longa. E que a gente se encontre por aí para rir do mundo e, principalmente, da gente mesmo. Abraços.

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ADERINDO

Demorei, mas aderi. Isso ainda parece estranho para mim, uma espécie de "estupro" - se é que vocês me entendem. Nunca achei que minhas opiniões e idéias pudessem auxiliar alguém ou colaborar para uma discussão, exceto para um grupo pequeno - notadamente as pessoas que fazem teatro, cinema ou televisão comigo, quase sempre colegas de elenco e diretores. No fundo não deve mesmo fazer nenhuma diferença o que penso sobre as coisas. Não de modo geral. Mas tenho descoberto que de maneira restrita - ainda que não possa aferir o sucesso - minhas opinões podem sim colaborar.
Está claro que não da maneira como eu pensei quando era muito jovem e ainda tinha a presunção de que poderia mudar o mundo. Mas tantas pessoas já foram tocadas por coisas que disse ou cantei ou escrevi e já fui tantas vezes tocado pelas pessoas... No fundo o que sempre quis - até bem pouco tempo atrás - é que mudanças definitivas ocorressem o tempo todo em todos os lugares apenas mediante minha vontade. É uma coisa um tanto americana, protestante, essa pretensão segundo a qual o mundo ao seu redor se transforma graças à sua vontade, às suas virtudes, só não faz um milhão de dólares quem não se esforça, só não para de fumar quem não persiste, só bebe quem é fraco. Ah, que chatice! Odeio essa "virtude" tanto quanto odeio o derrotismo. São dois lados da mesma moeda.
"By the way", vou sim emitir opiniões. Ora, são só opiniões! Não vão servir para muita coisa, eu sei, no máximo para fazer as idéias alçarem vôo. E, como diz o nome do Blog, vou falar sobre tudo um pouco. Sobre teatro, cinema, televisão, literatura, política, e - porque não? - esportes.
Aguardo vocês.

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