Fui solteiro até os 35 anos. Já achava que casamento não era para mim, que meu destino era mesmo ser um solteirão repleto de manias, daqueles que fazem tudo sempre do mesmo jeito, não suportam mudar a rotina em um centímetro, têm pouca paciência para as manias dos outros, enfim, um chato feliz. Ou nem tanto.
A verdade é que, depois de casado, descobri que sou um cara repleto de manias, faço tudo sempre do mesmo jeito, não suporto mudar a rotina em um centímetro, tenho pouca paciência para as manias dos outros, enfim, um chato feliz que encontrou alguém que suporta todas essas esquisitices, muito provavelmente porque é também ela uma esquisita daquelas. Costumamos dizer que nascemos velhos e que somos, ambos, muito, MUITO chatos. Além de exigentes, perfeccionistas, intolerantes com burrice, com incompetência, com gente preconceituosa... Não! Nem pense que somos dois misantropos! Também adoramos ver amigos, recebê-los eventualmente em casa, visitar pais, irmãos, sobrinhos, etc. Mas sabemos que, logo depois, poderemos voltar para nossa vidinha sem graça e cheia de regras, a mesma vidinha que nos dá tanta segurança e, ao mesmo, tempo liberdade.
É claro que somos dois previlegiados. Não são muitos os casais que podem desfrutar desta tranquilidade, a de ter as mesmas caretices, as mesmas manias, manias diferentes sempre compreendidas pelo companheiro, diferenças aparentemente inconciliáveis (como um ser ateu e o outro espírita, um ser bem liberal e o outro ser muito conservador) que nada interferem no cotidiano. E claro, também, que ambos sofremos bastante por amor antes de nos encontrarmos - quem não sofreu afinal?
Mas na altura em que nos encontramos já achávamos que não seríamos felizes, que éramos duas criaturas marcadas com um sinal da besta na testa que nos reservava apenas o direito de passar o resto dos dias lamentando. Ou que, pelo menos, teríamos que aprender com nossa própria solidão. Então surgimos um para o outro...
A grande vantagem de encontrar um amor na maturidade é que não temos mais a pretensão de que tudo deve seguir o enredo de um romance romântico, de um sentimento arrebatador e que cega. Não que não tenhamos direito a palpitações, a beijos quentes, a cartas de amor, à saudade eventual, à vontade de amor eterno. Agora, entretanto, também temos direito a reconhecer no outro o que há de diferente, de humano. Na visão do amante maduro não ficam ofuscadas as perebas, as ramelas, os chulés e outros quetais que, na canção de Chico Buarque "só a bailarina que não tem". É possível reconhecer no outro apenas alguém falível por quem se nutre um imenso amor, este sim invulnerável posto que será eterno. É facil saber que estamos entrando numa aventura que pretendemos que seja para o resto de nossas vidas, mas, se algo ocorrer durante o período em que estivermos percorrendo este caminho, ainda assim teremos entrado numa relação para sempre - apenas algo não deu certo, só isso...
Mesmo assim minha mulher vive sofrendo - e atentem para esse detalhe curioso - com as notícias de separação que lê em revistas que ela encontra quando vai à manicura. "Caras", "Contigo", "Quem", que me perdoem os periódicos dos quais me esqueci... Algumas vezes ela sabe da separação de pessoas bem próximas a nós primeiro pelas revistas! Parece meio lógico: seu amigo se separa daquela figura que você conheceu na última festa e não vai te ligar para contar "Oi, estou te ligando para avisar que me separei da fulana". Como alguns de nós são figuras públicas, a notícia vem pela revista.
Nestes casos ela sempre chega em casa arrasada. Separações sempre a deixam infeliz. É como se, separando-se alguém, isso a lembrasse de que também nós podemos nos separar. E sim, podemos nos separar, qualquer um pode. Mas isso não significa que devemos! Ou que devamos graças ao fato de que alguém se separou!
Impossível. Ela sempre se sente um pouco cúmplice. Como eu me sinto quando alguém que admiro morre, como se um pouco de mim morresse também. Nestas horas - quando a coisa gruda a ponto de doer - a melhor coisa a se fazer é fechar a "Caras", ora! Ou pular a página com o obituário, em meu caso!
Mas, afinal, por que as pessoas se separam? O amor termina? O sexo já não é tão bom? Divergências inconciliáveis? Seriam estes motivos fortes o suficiente para uma separação? Senão vejamos...
Não acredito que um sentimento como o amor possa chegar ao fim a não ser por um motivo grave. E quando digo grave quero dizer muito grave mesmo. Agressão, por exemplo. Não há amor que resista à violência. Traição? Também. Se há um pacto segundo o qual a relação deve ser monogâmica, esse pode ser um fator determinante. Mesmo assim pode haver o perdão, dependendo das circunstâncias. Não consigo ver motivos - afora esses e alguns outros poucos muito graves - que seriam capazes de destruir um amor...
Ok, você ama, mas o sexo já não é bom... Ora, há tantas formas de se renegociar isso! Solicitar, pedir outras formas de prazer! E há os sex-shops da vida com seus inúmeros utensílios capazes de esquentar uma vida sexual morna. Isso sem contar com aqueles que gostam de "swing" e outras formas de apimentar a relação - sempre contando com a cumplicidade do parceiro, obviamente.
E quanto às divergências inconciliáveis? Religião? Não é algo tão difícil. Descartemos fundamentalismos, é claro. Nada é mais insuportável do que alguém querendo te converter o tempo todo. Diferenças, no entanto, são aceitas. E viva a convivência na contradição. Mas motivo para separação? Tenha dó...
Será que eu fiquei careta antes do tempo? Ou me transformei num romântico de outra estirpe?
E você? O que faria você se separar?
Beijos e vote na enquete lá embaixo.
A verdade é que, depois de casado, descobri que sou um cara repleto de manias, faço tudo sempre do mesmo jeito, não suporto mudar a rotina em um centímetro, tenho pouca paciência para as manias dos outros, enfim, um chato feliz que encontrou alguém que suporta todas essas esquisitices, muito provavelmente porque é também ela uma esquisita daquelas. Costumamos dizer que nascemos velhos e que somos, ambos, muito, MUITO chatos. Além de exigentes, perfeccionistas, intolerantes com burrice, com incompetência, com gente preconceituosa... Não! Nem pense que somos dois misantropos! Também adoramos ver amigos, recebê-los eventualmente em casa, visitar pais, irmãos, sobrinhos, etc. Mas sabemos que, logo depois, poderemos voltar para nossa vidinha sem graça e cheia de regras, a mesma vidinha que nos dá tanta segurança e, ao mesmo, tempo liberdade.
É claro que somos dois previlegiados. Não são muitos os casais que podem desfrutar desta tranquilidade, a de ter as mesmas caretices, as mesmas manias, manias diferentes sempre compreendidas pelo companheiro, diferenças aparentemente inconciliáveis (como um ser ateu e o outro espírita, um ser bem liberal e o outro ser muito conservador) que nada interferem no cotidiano. E claro, também, que ambos sofremos bastante por amor antes de nos encontrarmos - quem não sofreu afinal?
Mas na altura em que nos encontramos já achávamos que não seríamos felizes, que éramos duas criaturas marcadas com um sinal da besta na testa que nos reservava apenas o direito de passar o resto dos dias lamentando. Ou que, pelo menos, teríamos que aprender com nossa própria solidão. Então surgimos um para o outro...
A grande vantagem de encontrar um amor na maturidade é que não temos mais a pretensão de que tudo deve seguir o enredo de um romance romântico, de um sentimento arrebatador e que cega. Não que não tenhamos direito a palpitações, a beijos quentes, a cartas de amor, à saudade eventual, à vontade de amor eterno. Agora, entretanto, também temos direito a reconhecer no outro o que há de diferente, de humano. Na visão do amante maduro não ficam ofuscadas as perebas, as ramelas, os chulés e outros quetais que, na canção de Chico Buarque "só a bailarina que não tem". É possível reconhecer no outro apenas alguém falível por quem se nutre um imenso amor, este sim invulnerável posto que será eterno. É facil saber que estamos entrando numa aventura que pretendemos que seja para o resto de nossas vidas, mas, se algo ocorrer durante o período em que estivermos percorrendo este caminho, ainda assim teremos entrado numa relação para sempre - apenas algo não deu certo, só isso...
Mesmo assim minha mulher vive sofrendo - e atentem para esse detalhe curioso - com as notícias de separação que lê em revistas que ela encontra quando vai à manicura. "Caras", "Contigo", "Quem", que me perdoem os periódicos dos quais me esqueci... Algumas vezes ela sabe da separação de pessoas bem próximas a nós primeiro pelas revistas! Parece meio lógico: seu amigo se separa daquela figura que você conheceu na última festa e não vai te ligar para contar "Oi, estou te ligando para avisar que me separei da fulana". Como alguns de nós são figuras públicas, a notícia vem pela revista.
Nestes casos ela sempre chega em casa arrasada. Separações sempre a deixam infeliz. É como se, separando-se alguém, isso a lembrasse de que também nós podemos nos separar. E sim, podemos nos separar, qualquer um pode. Mas isso não significa que devemos! Ou que devamos graças ao fato de que alguém se separou!
Impossível. Ela sempre se sente um pouco cúmplice. Como eu me sinto quando alguém que admiro morre, como se um pouco de mim morresse também. Nestas horas - quando a coisa gruda a ponto de doer - a melhor coisa a se fazer é fechar a "Caras", ora! Ou pular a página com o obituário, em meu caso!
Mas, afinal, por que as pessoas se separam? O amor termina? O sexo já não é tão bom? Divergências inconciliáveis? Seriam estes motivos fortes o suficiente para uma separação? Senão vejamos...
Não acredito que um sentimento como o amor possa chegar ao fim a não ser por um motivo grave. E quando digo grave quero dizer muito grave mesmo. Agressão, por exemplo. Não há amor que resista à violência. Traição? Também. Se há um pacto segundo o qual a relação deve ser monogâmica, esse pode ser um fator determinante. Mesmo assim pode haver o perdão, dependendo das circunstâncias. Não consigo ver motivos - afora esses e alguns outros poucos muito graves - que seriam capazes de destruir um amor...
Ok, você ama, mas o sexo já não é bom... Ora, há tantas formas de se renegociar isso! Solicitar, pedir outras formas de prazer! E há os sex-shops da vida com seus inúmeros utensílios capazes de esquentar uma vida sexual morna. Isso sem contar com aqueles que gostam de "swing" e outras formas de apimentar a relação - sempre contando com a cumplicidade do parceiro, obviamente.
E quanto às divergências inconciliáveis? Religião? Não é algo tão difícil. Descartemos fundamentalismos, é claro. Nada é mais insuportável do que alguém querendo te converter o tempo todo. Diferenças, no entanto, são aceitas. E viva a convivência na contradição. Mas motivo para separação? Tenha dó...
Será que eu fiquei careta antes do tempo? Ou me transformei num romântico de outra estirpe?
E você? O que faria você se separar?
Beijos e vote na enquete lá embaixo.