Tenho ouvido algumas opiniões acerca do incidente na UNIBAN que vão de encontro às que tenho emitido, inclusive em meu último artigo aqui no blogue. Vamos a elas.
Mais de uma vez me disseram que “alguma coisa a garota fez para que os alunos tivessem aquela reação”. Este é o típico argumento dos regimes de exceção nos quais somos todos culpados até que provemos nossa inocência. Parece-me que quem faz uso deste tipo de argumento está a um passo de raciocínios totalitários. Há não muito mais do que 60 anos, a simples suspeita de que suas convicções não se alinhavam com as dos regimes da Itália e da Alemanha, ou - para falar da ideologia diametralmente oposta, mas igualmente totalitária – da União Soviética, bastava para que sua vida se transformasse numa obra de Kafka até que você convencesse os tais regimes de que era inocente. Assim, esta lógica segundo a qual a garota deve ter merecido a reação em cadeia, carece de alguma – senão de toda – boa vontade.
Indo adiante e desenvolvendo melhor um dos argumentos que já esbocei em meu último artigo, aos homens sempre nos foi dado um direito – que de resto parece inalienável – de sermos sexualmente ativos de maneira ostensiva (vide a quantidade enorme de mulheres que são assediadas diariamente, para não falar de outras formas bem mais agressivas de abordagem) sem que sejamos xingados, ameaçados ou quase agredidos. Talvez essa seja a maior afronta da garota, a de ter a coragem de se equiparar aos homens.
Quanto às garotas (sejam elas as que se alinharam aos colegas do sexo masculino na agressão, sejam as que observaram o incidente de longe, mas que também sentem-se incomodadas com a atitude ativa da aluna), pode haver na impossibilidade de se solidarizar um “quê” de frustração íntima com o fato de não terem coragem de exercer esta liberdade, uma ponta de inveja pela atenção natural que esta liberdade provoca nos homens. Caso contrário, fosse apenas a sensação de que a outra faz uso de uma vulgaridade que a elas não lhes cairia bem, não seria necessário concordar, ainda que de forma velada, com a agressão a que foi exposta a menina do vestido curto.
Ainda, que, de alguma forma, a moça tenha “provocado” - como argumentam alguns. Ora, quando as regras sociais são claras, quaisquer que sejam as instâncias, as consequências das quebras destas regras também são claras. Se a moça “provocou”, onde estava a instituição que não tomou uma atitude antes? Se houve uma inadequação quanto ao vestuário, qual foi a atitude da universidade quando se deu conta de que uma regra de conduta fora quebrada? Após a falha da instituição nos itens anteriores, ainda assim a atitude dos alunos e alunas (dizem que funcionários e professores participaram da barbárie, não sabemos bem) foi correta e/ou proporcional? Convenhamos, não foi.
Após todos estes erros o que se esperaria de uma universidade, de verdadeiros educadores? O mínimo que se esperaria era um debate de alto nível, nunca a expulsão sumária da “criminosa do vestidinho curto”. Senhores! Educação, senhores! Estamos fartos de discussões rasteiras e de agressões baratas!
Para terminar: se a moça realmente tem dito que pretende ser atriz, se após tudo isso descobrirmos que se tratava de uma candidata a celebridade, que ela realmente era uma exibicionista, etc, etc e etc, então podemos e até DEVEMOS promover um debate a esse respeito. Até lá, este será um assunto acessório que, de forma alguma, esconderá a irracionalidade quase nazista, a reação coletiva fundamentalista daquela turba.
Eliseu Paranhos